sábado, outubro 18, 2008

Procurando o meu rasto...

18/Out/2008 19:25

Encontro-me nestes montes. Nestes montes me encontro. E é para eles que escrevo, e em nome deles escrevo para as minhas memórias.
Não vivo sem cá voltar. Pode tudo perder o sentido, nada mais ter significado, ficar vazia...mas estes contrastes de cor, estes intemporais outonos ficam para sempre. São pedaços de Terra, são pedaços de gente, são restos da minha alma! Não são de ninguém, e ao mesmo tempo são de toda a gente. Pertencem ao mundo, mas são Terra de ninguém.
Terra, elemento de vida! Imanam sabores, cores, cheiros...cheira a velho e cheira a fumo...rastos humanos, na passagem do tempo, pela Terra.
Fico sem palavras. Apenas saboreio e deixo-me levar. Procuro tudo onde não há nada...encho-me com estes olhos "que a Terra há-de comer"!
Passa o Vento pelos pinheiros e o Sol duro e quente faz estalar as pinhas e traz aquele arome verde, aquele cheiro que eu amo...aqui consigo respirar fundo, viver um pouco. Apanharia a sua essência se me deixassem e guardaria esse rasto de mim, essa pequena parte daquilo que amo. Mas também não quero levar algo que não é meu, que é de ninguém. Assim sei sempre onde a encontrar...essa essência, essa Terra que é parte de mim!
Então deixo-a ficar. E continuo a olhar, a sentir. Remeniscências daquilo que fui, e deixo-me ficar. Permaneço tranquila e inerte. Deixo-me absorver pelo espaço e pelo momento. A brisa suave acompanha-me neste processo e leva-me para longe, leva-me até às memórias...
Mas eu continuo ali. Eu e os pinheiros! Eu e as sombras! Eu e os cheiros! Eu e os montes! Sozinha... deslumbrada... alienada... esquecida... Só eu, e esta Terra! Doi-me a alma! Doi-me eu estar aqui...sozinha. Voltar a um pedaço de Terra onde fui tudo. E agora estou aqui porque reconheço esta força, esta serenidade. Sinto esta envolvência que me chama, e procuro o meu rasto! O meu rasto, uma identificação. Agarro-me ao passado com sede no futuro.
Não faço perguntas, apenas tento encontrar-me. Ver estes pinheiros, sentir esta brisa, recorda-me a vida, recorda-me o que é viver com serenidade...

Bragança, 17 Outubro 2008...(sick...but strong enough)